Os ativos ESG (ambientais, sociais e de governança) provavelmente impulsionarão uma nova expansão significativa do mercado. Aqui está o porquê:
- Aumento da demanda dos investidores: os investidores estão cada vez mais se concentrando em sustentabilidade e investimento responsável. Há evidências crescentes de que fatores ESG podem reduzir riscos, melhorar retornos de longo prazo e ajudar as empresas a se alinharem às expectativas regulatórias e sociais em evolução. Grandes gestores de ativos, como BlackRock e Vanguard, adotaram investimentos ESG, e o total de ativos sob gestão (AUM) em fundos focados em ESG cresceu significativamente, ultrapassando US$ 35 trilhões globalmente em 2020. Essa tendência não mostra sinais de desaceleração e deve continuar se expandindo em todos os setores.
- Mudanças regulatórias e políticas: governos e reguladores em todo o mundo estão introduzindo regulamentações ambientais e sociais mais fortes, como a Taxonomia da UE para atividades sustentáveis e relatórios obrigatórios de carbono. Essas estruturas regulatórias criam novos mercados para tecnologias verdes, créditos de carbono e produtos sustentáveis, promovendo a expansão do mercado ao encorajarem empresas a investir em energia limpa, agricultura sustentável e outras áreas relacionadas a ESG.
- Mudanças no fluxo de capital: grandes mudanças de capital em direção a empresas que priorizam a sustentabilidade impulsionarão o crescimento do mercado. À medida que o capital flui cada vez mais em direção a energia renovável, tecnologias de baixo carbono, infraestrutura verde e empresas socialmente responsáveis, setores inteiros vão se expandir. Essa transformação pode alimentar o crescimento do mercado de maneira semelhante a como as empresas de base tecnológica impulsionaram a expansão do mercado nas últimas décadas através dos ativos intangíveis.
Ajustando o DCF para ativos ESG: desafios e oportunidades
O método DCF será uma ferramenta crítica na avaliação de ativos ESG, assim como é na avaliação dos ativos intangíveis. Mas ainda haverá adaptações significativas para que o método leve em conta na modelagem financeira as características únicas dos fatores ESG. Veja como:
- Flexibilidade do DCF: o DCF é uma ferramenta versátil porque é prospectivo e contabiliza fluxos de caixa de longo prazo. Isso o torna adequado para avaliar empresas que investem pesadamente em ESG, especialmente onde mudanças regulatórias ou de hábitos de consumidores em direção à sustentabilidade deverão impactar o desempenho financeiro futuro. Por exemplo:
- As empresas que investem em fontes inovadoras de energia renovável podem ter fluxos de caixa incertos de curto prazo, mas espera-se que tenham benefícios de longo prazo devido a mudanças regulatórias favoráveis ou riscos reduzidos de futuras regulamentações de carbono. O DCF pode modelar esses benefícios de longo prazo.
- Empresas socialmente responsáveis podem se beneficiar de uma maior fidelidade do cliente ou do acesso a capital com custos mais baixos, o que pode ser refletido em projeções futuras de fluxo de caixa. O DCF pode inserir esses fatores de impacto na modelagem financeira.
- Desafios para DCF com ativos ESG: fatores ESG introduzem um nível de complexidade que os modelos DCF tradicionais podem ter dificuldade em capturar totalmente:
- Incerteza e benefícios não quantificáveis: muitos benefícios relacionados a ESG (por exemplo, reputação, impacto social ou administração ambiental) podem não ter impactos imediatamente quantificáveis no fluxo de caixa. Por exemplo, o investimento de uma empresa na redução de sua pegada de carbono pode melhorar sua marca ou reduzir riscos regulatórios futuros, mas esses benefícios podem ser difíceis de modelar precisamente na estrutura-padrão de DCF.
- Ajustes de risco:o DCF depende de taxas de desconto que refletem o risco de fluxos de caixa futuros. Fatores ESG podem reduzir ou aumentar o risco, mas muitos riscos (por exemplo, mudanças climáticas, penalidades regulatórias, interrupções na cadeia de suprimentos) têm surgido recentemente e são difíceis de quantificar. Taxas de desconto ajustadas por ESG precisarão ser desenvolvidas para contabilizar esses fatores com precisão.
- Surgimento de métodos complementares: embora o DCF continue sendo central, outros métodos podem complementá-lo cada vez mais na avaliação de ativos ESG:
- Análise de cenários: essa abordagem modela diferentes caminhos futuros (por exemplo, precificação de carbono, riscos climáticos, mudanças regulatórias) e aplica esses cenários a projeções de fluxo de caixa. Isso será particularmente importante para ativos ESG com resultados incertos.
- Avaliação de impacto: fatores ESG que proporcionam benefícios sociais ou ambientais mais amplos podem exigir ferramentas como estruturas de avaliação de investimento de impacto, as quais tentam quantificar resultados financeiros e não financeiros (por exemplo, redução de carbono, equidade social) que não se encaixam facilmente em modelos DCF tradicionais.
- Avaliação de opções reais: para ativos vinculados a fatores ESG voláteis ou incertos (como startups de tecnologia verde ou novas estruturas regulatórias), a teoria de opções reais pode ser uma maneira melhor de avaliar a flexibilidade e a tomada de decisões futuras associadas a investimentos ESG.
Adaptações no DCF para ativos ESG
Para permanecerem relevantes e valorizarem com precisão os investimentos relacionados a ESG, os modelos DCF precisarão evoluir. Principais adaptações poderiam incluir:
- Incorporando prêmios e penalidades ESG: empresas com práticas ESG fortes podem desfrutar de menores custos de capital ou maior fidelidade do cliente, o que deve ser refletido nas estimativas de fluxo de caixa do DCF. Da mesma forma, empresas que enfrentam riscos ESG (por exemplo, impostos futuros sobre carbono) devem ajustar seus modelos DCF para refletir essas potenciais penalidades.
- Ajustando a taxa de desconto: a taxa de desconto deve refletir os riscos relacionados a ESG. Por exemplo, empresas em setores expostos a riscos de regulamentação climática podem ter taxas de desconto mais altas, enquanto empresas líderes em sustentabilidade podem ter taxas mais baixas devido à diminuição de riscos e acesso a capital favorável.Horizontes de tempo mais longos: os impactos ESG, particularmente fatores ambientais e de governança, geralmente ocorrem em períodos mais longos do que os prazos típicos do DCF. Os analistas podem precisar estender os períodos de previsão para capturar benefícios ou riscos de longo prazo associados à sustentabilidade.
Conclusão
Os ativos ESG provavelmente promoverão outra onda de expansão de mercado, à medida que mudanças regulatórias, preferências de consumidores em transformação e a demanda dos investidores por sustentabilidade continuam a remodelar as indústrias. O DCF continuará sendo uma ferramenta central na avaliação de ativos ESG, mas precisará se adaptar para melhor contabilizar riscos e benefícios não financeiros, horizontes de tempo mais longos e resultados incertos vinculados a fatores ESG. Métodos complementares, como análise de cenário e avaliação de opções reais, também podem ganhar destaque na avaliação de investimentos relacionados a ESG, ajudando os investidores a capturar melhor toda a gama de riscos e oportunidades.
As primeiras mudanças nos relatórios financeiros das empresas brasileiras ocorrerão a partir de 2025, por conta das normas S1 e S2 emitidas pelo ISSB (International Sustainability Standards Board), braço de sustentabilidade das normas internacionais de contabilidade – IFRS. A entidade que emite as normas internacionais de avaliação – IVSC – também deu sua contribuição ao incluir na revisão normativa a obrigatoriedade do avaliador em considerar aspectos ESG das empresas ou ativos avaliados em suas metodologias e seus processos avaliatórios.