Artigo #3 – Expansão do mercado de capitais e o nascimento dos ativos intangíveis

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É bastante razoável supor que muito do crescimento do mercado facilitado pela adoção da avaliação do Fluxo de Caixa Descontado seja capturado no aumento de ativos intangíveis registrados nos balanços das empresas, embora não seja o único fator que impulsiona essa tendência. Aqui está o porquê: 

1. DCF e a avaliação de ativos intangíveis

O DCF coloca ênfase significativa em fluxos de caixa futuros, que é um princípio fundamental na avaliação de ativos intangíveis, como propriedade intelectual, marcas, relacionamentos com clientes, tecnologia e goodwill. Esses ativos geralmente não têm presença física, mas contribuem substancialmente para o valor de uma empresa, especialmente em setores como tecnologia, produtos farmacêuticos e bens de consumo. 

À medida que as estratégias de crescimento das empresas se tornaram mais dependentes dos ativos intangíveis (como patentes, tecnologias proprietárias ou patrimônio de marca), o DCF viabilizou que investidores e empresas capturassem esse valor, segregando o valor destes ativos do valor global através do desenvolvimento de novas metodologias derivadas do DCF, como o MPEEM (Multi Period Excess Earnings Method). Isso facilitou avaliações mais precisas de empresas que devem a maior parte de seu valor a fontes não tangíveis, geralmente fora dos balanços patrimoniais. 

2. Crescimentos dos ativos intangíveis na economia moderna

Nas últimas décadas, a economia tem se deslocado cada vez mais para setores baseados em conhecimento, em que o capital intelectual e a inovação impulsionam o valor. Os métodos tradicionais de avaliação utilizados em ativos tangíveis (como imóveis, plantas industriais e equipamentos) não capturam mais o valor total de muitas empresas modernas, particularmente em tecnologia e serviços. 

Como resultado, os ativos intangíveis passaram a representar uma parcela muito maior do valor geral de mercado das empresas. Por exemplo, em 1975, os ativos intangíveis representavam apenas 17%, aproximadamente, do valor de mercado das empresas do S&P 500, mas esse número havia subido para mais de 90% em 2020. 

3. Papel do DCF na captura de valor intangível 

Métodos de avaliação tradicionais, derivados da abordagem dos ativos (ex.: valor contábil, custo histórico, etc) ou da abordagem de mercado (ex.: múltiplos de preço/lucro), têm dificuldade para contabilizar a contribuição de intangíveis, especialmente quando esses não geram diretamente fluxo de caixa imediato. Em contraste, o DCF fornece uma estrutura prospectiva que permite às empresas avaliarem os benefícios econômicos futuros de ativos intangíveis, permitindo a inclusão de “N” variáveis independentes nos modelos econômicos como crescimento de receita, posição de mercado e vantagem competitiva, todas as quais são frequentemente impulsionadas por intangíveis. 

Por exemplo, em gigantes da tecnologia, como Apple, Google e Amazon, a maior parte do valor deriva de ativos intangíveis, como software, força de marca, propriedade intelectual e dados. Os fluxos de caixa futuros derivados de tais intangíveis são efetivamente capturados pela modelagem DCF, o que ajuda a explicar por que essas empresas comandam capitalizações de mercado tão altas em relação à sua base de ativos tangíveis. 

4. Valor de mercado vs. Valor contábil

Uma das principais tendências nos mercados financeiros modernos é a crescente lacuna entre o valor de mercado (o valor atribuído pelo mercado de ações) e o valor contábil (o valor contábil dos ativos tangíveis). O DCF tem desempenhado um papel na justificação e na explicação dessa discrepância, pois responde pela crescente importância dos ativos intangíveis, em sua maioria não contabilizados.  

A capacidade do DCF de avaliar os futuros ativos intangíveis geradores de caixa contribuiu para avaliações mais altas de empresas em setores como software, biotecnologia, mídia e comércio eletrônico, em que os ativos tangíveis são mínimos, mas o capital intelectual e o potencial de crescimento são imensos. 

5. Intangíveis em M&A e estratégia corporativa

Em fusões e aquisições (M&A), o DCF é frequentemente usado para avaliar empresas-alvo onde a base de negociação está associada ao potencial de valor de seus ativos intangíveis, como tecnologia proprietária, pipelines de P&D ou redes de clientes. Esses fatores são essenciais para a estimativa do valor estratégico de uma aquisição, frequentemente levando a prêmios significativos sobre o valor contábil. 

Por exemplo, quando uma empresa adquire outra empresa principalmente por suas patentes, marca ou base de clientes, o prêmio pago é frequentemente decomposto e classificado entre os diversos intangíveis, avaliados geralmente com técnicas derivadas de DCF. 

Conclusão

Embora o DCF não crie ativos intangíveis diretamente, ele desempenha um papel crítico na sua visualização pelo mercado, ao fornecer uma estrutura metodológica para contabilizar os benefícios econômicos futuros que esses ativos trazem para uma empresa. O rápido crescimento dos valores de ativos intangíveis no mercado, particularmente em tecnologia, saúde e outras indústrias orientadas à inovação, foi efetivamente capturado e justificado por meio da aplicação de métodos DCF. 

Portanto, é correto assumir que muito do crescimento do mercado observado nas últimas décadas, impulsionado pelo aumento de ativos intangíveis, foi bem capturado e explicado pela avaliação DCF. Esse método permitiu avaliações mais precisas de empresas cujo valor é amplamente derivado de ativos não físicos, contribuindo significativamente para a expansão do mercado que vemos hoje. 

Acompanhe nossa série de artigos escritos pelo vice-presidente da Apsis Carbon, Luiz Paulo Silveira, que explora a evolução do Fluxo de Caixa Descontado na avaliação de ativos, desde sua criação até o futuro que queremos construir com a inclusão dos princípios ESG.

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