Carbon News - Novembro

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Evoluções no Mercado Voluntário: Atualizações e Insights

Em resposta aos desafios e questionamentos aos projetos REDD levantados por estudos, como o de Hayas et.al, e publicações, incluindo a da New Yorker, a Verra lançou neste mês a metodologia “VM0048 – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal” que busca consolidar todas as abordagens existentes sobre o tema.

A nova metodologia representa um avanço significativo, preenchendo lacunas identificadas em metodologias anteriores, especialmente no que diz respeito à construção da linha de base baseada em projeções de desmatamento futuro. Uma das novidades é a centralização na Verra na determinação do grau de risco de desmatamento de cada projeto, com base no desmatamento histórico da jurisdição. Para isso, será aplicada uma ferramenta de mapeamento de risco para alocação de desmatamento não planejado.

Ainda segundo a metodologia, os projetos já em andamento que utilizaram a VM0009 terão a obrigatoriedade de realizar a transição para a VM0048. Após a reavaliação da linha de base, se o modelo revisado de emissões prever menos reduções de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do que os VCUs emitidos sob o modelo anterior, o projeto deve compensar essa diferença.

Com a implementação dessa abordagem aprimorada, espera-se uma série de mudanças no mercado. Por um lado, uma metodologia mais robusta não apenas responde às críticas anteriores, mas também proporciona uma maior transparência e confiabilidade ao mercado voluntário de carbono. Por outro lado, a exigência de transitar projetos antigos para a nova metodologia pode gerar insegurança jurídica, revisão para menos na geração de créditos e litigância climática. Essas adaptações podem impactar não apenas a quantidade, como o preço dos créditos REDD, valorizando projetos com maior integridade.

Já o Gold Standard (GS), programa voluntário de carbono focado no avanço dos ODS, realizou a primeira operação de venda de créditos do mercado voluntário com o respectivo ajuste correspondente nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC) de Ruanda, atendendo os requisitos do Artigo 6 do Acordo de Paris. Esse crédito de carbono foi gerado por meio de um projeto de reduções de emissões em Ruanda, focado na substituição de fogões tradicionais por fogões a biomassa altamente eficientes.

Por conta disso, a perspectiva é que haja sinergias entre o mercador voluntário e o regulado, proporcionando oportunidades de transição, afetando diretamente o valor dos créditos e impulsionando inovações e investimentos sustentáveis.

COP 28 e expectativas quanto ao mercado brasileiro

Entre 30/11 e 12/12, Dubai será o palco das principais discussões sobre o combate às mudanças climáticas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28). A expectativa do setor privado para esse evento é que o Brasil pode se destacar como um grande provedor global de soluções climáticas naturais na preservação de florestas, adoção de práticas de agricultura de baixo carbono, na restauração de ecossistemas e na predominância de fontes renováveis na matriz elétrica.

Um exemplo é o hidrogênio verde, que emerge como uma das principais apostas na descarbonização de setores-chave da economia. Essa forma de hidrogênio é produzida por meio da eletrólise da água usando energia renovável, como solar ou eólica. O hidrogênio verde representa não apenas uma alternativa de baixo carbono, mas também uma oportunidade para estimular a transição energética global, reduzindo significativamente as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, no dia 28/11/2023 foi aprovada a PL 2308/23 que propõe a regulamentação da produção de hidrogênio de baixa carbono.  

De acordo com as recentes notícias, empresas como a Vale e a Petrobras estão posicionadas para impulsionar a demanda por hidrogênio verde no Brasil. Segundo o presidente da Vale, ambas podem ser pioneiras em reduzir as incertezas relacionadas ao preço e à demanda do hidrogênio verde no país.

Nessa mesma linha, outra iniciativa anunciada recentemente pelo governo é o programa federal de recuperação de pastagens degradadas. Com capacidade de regenerar até 40 milhões hectares ao longo de 10 a 15 anos, o plano terá suporte financeiro especial do Banco do Brasil e do BNDES, exigindo contrapartidas socioambientais dos produtores.

Todas essas notícias contribuem para que o Brasil possa se posicionar na COP28 como potencial liderança internacional em um contexto de agravamento da crise climática. Com o lançamento do primeiro Balanço Global do Acordo de Paris, conhecido como GST (Global Stocktake), será viável avaliar o avanço, identificar áreas de êxito, estagnação e áreas que exigem progresso imediato. Essa análise é crucial para elaborar novas metas climáticas nacionais a serem apresentadas durante a COP30 em 2025, que será realizada no Brasil.

­Evolução ESG no Brasil

Apesar do cenário do ESG (Ambiental, Social e Governança) no Brasil ter demonstrado uma crescente relevância e engajamento por parte das empresas nos últimos anos, ainda há um caminho considerável que precisa ser percorrido.

Segundo pesquisa realizada pela Korn Ferry e divulgada pela revista Valor, a maior parte das empresas brasileiras ainda não possuem metas de ESG. A pesquisa foi realizada com 652 empresas da América do Sul, sendo 265 do Brasil. Desse total, obteve-se como resultado que 67% das empresas já têm uma aderência as práticas ESG, enquanto 54% não estabeleceu metas.

Esses dados apresentam certa similaridade com a pesquisa realizada pela Apsis Carbon. A pesquisa avaliou as empresas de capital aberto listadas na Bolsa de Valores Brasileira (B3) com o objetivo de analisar como elas estão incorporando aspectos ESG. Das 449 empresas listadas, 251 adotam e publicam relatórios ESG. Ao analisar os setores das empresas que realizam essa divulgação, conforme ilustrado na Figura 1, observou-se que os setores e subsetores historicamente mais impactantes no meio ambiente apresentam uma expressiva adesão à publicação de relatórios ESG, superando 65% em áreas como Petróleo, Gás Natural & Biocombustíveis; Energia; Mineração; Siderurgia. Destaca-se também o subsetor de Comércio Varejista, que registra uma adesão superior a 65% na divulgação de relatórios ESG, indicando possíveis pressões de stakeholders, especialmente de fornecedores e clientes, por práticas empresariais sustentáveis.

Fonte: Apsis Carbon

Empresas brasileiras que ainda não incorporaram estratégias ESG em suas práticas de negócios devem atentar-se a essa abordagem essencial. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Kantar, dos 1000 brasileiros ouvidos, 63% disseram procurar marcas com histórico ativo de ações pró-ESG, enquanto 56% relataram ter interrompido a aquisição de produtos ou serviços de empresas que não investem nos âmbitos ESG.

Diante desse cenário, as empresas precisam se estruturar de maneira a atender às crescentes expectativas de investidores, acionistas e consumidores, além de estabelecer metas tangíveis. Conforme apontado pela Valor, esses stakeholders buscam não apenas retornos financeiros e diminuição de riscos, mas também melhorias concretas em termos de impactos ambientais e responsabilidade social. Adaptar-se a essas demandas não só fortalece a posição da empresa no mercado como também é uma estratégia empresarial inteligente para assegurar sustentabilidade e gerar valor a longo prazo.

Por Fabiano Machado

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