Carbon News - Maio

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VCS e ART-TREES avançam no CCP

Seguindo a tendência de recuperação da credibilidade do mercado de carbono informado no mês anterior, a ICVCM, em 2 de maio de 24, anunciou que os padrões VCS (Verra) e ART-TREES também estão de acordo com as regras do CCP. Esses programas se juntam ao ACR, CAR e Gold Standard, como os elegíveis aos CCPs, que juntos representam 98% no mercado voluntário de carbono. Os próximos passos destes programas é receber o selo de “CCP – Approved” de suas metodologias e com isto poderá ser utilizado o selo CCP. Como mencionado anteriormente, esse tipo de iniciativa aumenta a confiança de investidores e compradores no mercado.

Outra novidade no mercado voluntário de carbono deste mês é a publicação de um feedback abrangente das partes interessadas sobre o Draft (v0.1) da nova metodologia de Verra sobre Natureza, a SD Vista Nature Framework. Segunda a Verra: “A integração do feedback irá contribuir para a clareza, praticidade, adequação local, escalabilidade e facilidade de uso da estrutura.”

Esta metodologia, que tem previsão de finalização ainda este ano, descreve como os projetos podem gerar Créditos de Natureza. Ao contrário dos créditos de carbono, que são medidos em toneladas de CO2 equivalente (tCO2e), os Créditos de Natureza são medidos em hectares de qualidade (Qha), que representam o aumento da biodiversidade a partir de uma linha de base. Além disso, está metodologia destaca a participação ativa de Povos Indígenas e Comunidades Locais. Estas populações são mundialmente reconhecidas por serem “guardiãs das florestas” conservando eficazmente a natureza por décadas.

Diferente dos créditos de Biodiversidade de outros padrões, que precisam de áreas degradadas para serem financeiramente viáveis, este tipo de crédito oferece uma oportunidade para projetos coordenados por povos indígenas e comunidade locais. Isto porque recompensa os resultados bem-sucedidos e verificados de conservação e manejo da natureza com base na estabilidade e resiliência dos ecossistemas, aumentando a viabilidade financeira de áreas que historicamente foram bem gerenciadas por estas comunidades.

Estas comunidades, assim como outras comunidades vulneráveis, também tiveram avanços no mercado regulado. Em 3 de Maio, O Corpo Supervisor do mecanismo do Artigo 6.4 introduziu o Procedimento de Apelações e Reclamações. O principal objetivo deste documento é estabelecer requisitos para apresentação de uma apelação ou submissão de uma reclamação em projetos que seguem o mecanismo do Artigo 6.4, bem como os passos procedimentais para processá-los e as consequências resultantes. Este passo também fortalece o desenvolvimento de mercado internacional regulado de carbono, estabelecendo um padrão para créditos de carbono de alto valor agregado.

O caminho para a sustentabilidade global e redução de GEE passa por uma economia de baixo carbono, que por muitas vezes requer a compensação de emissões com estratégia complementar. Levando esta problemática em consideração, o governo brasileiro aprovou com unanimidade no dia 14 de maio, a Resolução ANAC nº 743, de 15 de maio de 2024. A Resolução regulamenta o monitoramento, reporte, a verificação e a compensação das emissões de dióxido de carbono (CO2) relativas às operações internacionais no âmbito do Mecanismo de Redução e Compensação de Emissões da Aviação Internacional – CORSIA. O operador aéreo deverá monitorar suas emissões de CO2 quando emitir, em um

ano-calendário, quantidade superior a dez mil toneladas em etapas internacionais de voo, utilizando aeronaves de asa fixa com peso máximo de decolagem certificado acima de 5.700 kg.

A ANAC será responsável por estabelecer os procedimentos necessários para o cumprimento dos requisitos de monitoramento das emissões, além de receber os dados dos operadores aéreos. As novas regras da ANAC Brasil entrarão em vigor em 1º de janeiro de 2025, representando um passo significativo na promoção de práticas sustentáveis na aviação internacional.

Importância de mensurar riscos climáticos para resiliência ambiental

Os meses de abril e maio foram marcados por enchentes históricas em diversas cidades ao redor do mundo. Países do Golfo, como Emirados Árabes, Bahrein, Catar, Arábia Saudita e Dubai, registraram recordes de precipitação. Em Dubai, foi registrado um recorde de 254 mm de chuva em um único dia, superando a média anual de precipitação. Essa quantidade de chuva levou ao cancelamento de centenas de voos no Aeroporto Internacional de Dubai, o segundo mais movimentado do mundo.

No Quênia, as chuvas torrenciais também causaram sérios prejuízos econômicos e sociais. Mais de 200 pessoas perderam a vida, milhares foram deslocadas e quase 2.000 escolas foram destruídas.

Outra região que vem sofrendo grave desastre climático com enchentes é o Rio Grande do Sul, no Brasil. Três semanas após o início das precipitações intensas, o Rio Guaíba, que atravessa a capital Porto Alegre, continua a subir, ultrapassando seu nível histórico máximo. Segundo dados da Defesa Civil do estado, 468 municípios foram afetados, 581.643 pessoas estão desalojadas e 163 óbitos foram confirmados.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) projeta que eventos climáticos extremos se tornarão mais frequentes e intensos globalmente. A Figura 1 ilustra o cenário mais extremo de alteração nos regimes de precipitação para as próximas décadas. As áreas em verde indicam um aumento nas precipitações, enquanto as áreas em amarelo mostram uma redução. Observa-se que as regiões afetadas por enchentes neste mês também apresentam um aumento significativo nas precipitações nesse cenário projetado.

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Além disso, segundo o estudo “Mudanças climáticas e o impacto econômico de eventos climáticos extremos” realizado pela Oxford Economics, as perdas causadas por eventos climáticos extremos atingiram £360 bilhões em 2021 (cerca de 0,4% do PIB mundial). A tendência é que este valor aumente à medida que estes eventos se tornam mais frequentes e mais poderosas.

Frente a esses desafios, é imprescindível adotar medidas para elevar a resiliência das comunidades e das empresas, o que inclui a antecipação dos potenciais danos originados por eventos climáticos extremos, tanto em contextos urbanos quanto empresariais. Essa previsão pode ser realizada por meio de frameworks estabelecidos, como o CDP (Carbon Disclosure Project) e o TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures).

Estas análises ajudam a identificar áreas vulneráveis, prever futuros eventos climáticos extremos e implementar medidas de mitigação e adaptação. Investir em resiliência climática não apenas protege comunidades e economias, mas também promove um desenvolvimento sustentável e seguro para as futuras gerações.

Fabiano G. Machado, diretor da Apsis Carbon.

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