Carbon News - Julho/24

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Em outubro, ocorrerá a World Investor Week 2024, da International Organization of Securities Comissions (IOSCO), entidade que reúne os reguladores de valores mobiliários do mundo. Um dos temas centrais do evento será finanças sustentáveis, que está ganhando crescente importância, dado o impacto significativo dessa temática na mitigação das mudanças climáticas e na promoção de um desenvolvimento econômico mais resiliente. No Brasil, os avanços dos Pronunciamentos Técnicos relacionados a sustentabilidade e mudanças climáticas (CBPS 1 e CBPS 2) têm sido notáveis. Em 11 de julho, foi encerrado o prazo para o envio de sugestões e comentários nas audiências públicas conjuntas sobre as minutas desses pronunciamentos. A proposta é que a resolução entre em vigor em 1º de janeiro de 2026. 

Além disso, o Edhec – Risk Climate Impact Institute divulgou em julho o estudo intitulado “Como o risco climático afeta o valuation global das ações?”¹, cujo objetivo principal é integrar os riscos relacionados ao clima em ferramentas relevantes de decisões de investimento, oferecendo insights significativos tanto para investidores quanto para fomentar políticas. Um dos aspectos abordados no estudo é a consideração dos tipos de risco: o risco de transição, que se refere aos custos para empresas decorrentes das medidas regulatórias para redução de GEE; e o risco físico, que engloba os danos resultantes das mudanças climáticas não mitigadas. 

Uma das principais conclusões do estudo é a variação no valuation das ações entre um mundo sem danos climáticos e um mundo impactado por mudanças climáticas, a qual pode ser significativa, variando de menos de 10%, se forem tomadas ações de mitigação rápidas e robustas, a mais de 40%, em casos de quase nenhuma ação. Além disso, os autores relatam que as abordagens práticas para descontar fluxos de caixa futuros, como o uso de um custo médio ponderado de capital, podem ser adequadas aos contextos para os quais foram desenvolvidos, mas podem não ser aplicáveis ao valuation de fluxos de caixa dependentes do clima. 

Dada a importância desse tema, entre os dias 30 de setembro e 02 de outubro de 2024 ocorrerá o V20 Summit and Conference, um evento paralelo aos encontros do fórum G20 realizados no Brasil neste ano. A conferência está sendo organizada pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE) em colaboração com o International Valuation Standards Council, com a Assessors and Registered Valuers Foundation, e a Apsis e a Apsis Carbon participarão do painel com o seu vice-presidente Luiz Paulo Silveira como palestrante, que falará sobre o tema “ESG nas avaliações”. 

Descarbonização da cadeia de suprimentos 

A escolha e a gestão da cadeia de fornecedores desempenham um papel fundamental na promoção da sustentabilidade corporativa e na mitigação de emissões de GEE. Cada vez mais as empresas se dão conta da importância de avaliarem e monitorarem suas cadeias de fornecimento e, consequentemente, identificarem as fontes de emissões indiretas, que com frequência representam a parcela mais significativa de suas emissões. A Lego, maior empresa de brinquedos do mundo, exigirá que seus fornecedores estabeleçam metas de redução de emissões de curto prazo até 2026, isso porque cerca de 99% das emissões da Lego vêm do Escopo 3, incluindo a sua cadeia de fornecimento. O novo Programa de Sustentabilidade de Fornecedores da Lego, anunciado em 03 de julho, exige que, a partir de 2024, seus maiores fornecedores (representando cerca de 70% de suas emissões totais) compartilhem dados sobre as emissões geradas pela produção de bens e serviços vendidos à empresa. Eles também precisarão compartilhar metas de redução a partir de 2026.   

Nesse mesmo sentido, o SBTi anunciou um novo cronograma e publicou, em maio de 2024, Termos de Referência para a revisão do Padrão Corporativo Net-Zero, abordando os desafios relacionados à definição de metas do Escopo 3. No mês de julho, o SBTi divulgou quatro resultados técnicos: 

  • Documento Escopo 3: Documento de discussão que define os parâmetros do SBTi sobre mudanças potenciais exploradas em torno da definição de metas do Escopo 3, incluindo princípios e conceitos subjacentes.
  • Evidências recebidas sobre a eficácia dos Certificados de Atributos Ambientais: Divulgação de todas as evidências enviadas como parte da chamada aberta para evidências, que ocorreu de setembro a novembro de 2023, sobre a eficácia dos Certificados de Atributos Ambientais (sem avaliação SBTi).
  • Relatório de síntese de evidências sobre a eficácia dos Certificados de Atributos Ambientais em metas climáticas corporativas – Créditos de carbono: Relatório que apresenta a síntese da SBTi das evidências enviadas por meio da chamada de evidências sobre a eficácia dos créditos de carbono em metas climáticas corporativas.
  • Descobertas de revisão sistemática independente sobre a eficácia dos créditos de carbono em metas climáticas corporativas: Declaração das descobertas da avaliação, conduzida por uma terceira parte independente, sobre literatura acadêmica revisada por pares em relação à eficácia dos créditos de carbono quando usados ​​como um substituto para redução direta. A declaração resume o processo seguido, bem como descobertas e limitações desse exercício de pesquisa.

 

Um rascunho do Corporate Net-Zero Standard será lançado para consulta pública no fim do quarto trimestre de 2024, conforme anunciado pelo SBTi. 

Apesar do período de crescente ceticismo em relação aos créditos de carbono, estes podem atuar como um catalisador para investimentos em tecnologias limpas e projetos sustentáveis, particularmente em países em desenvolvimento, onde o subsídio frequentemente é restrito. Segundo relatório da MSCI, mundialmente foram realizados mais de 5.400 projetos no período de 2007 a 2024, totalizando 2,385 MtCO2e. Já na América Latina, foram contabilizados 512 projetos, com um total de 539 MtCO2e em créditos emitidos no mesmo período. A Figura 1 ilustra os principais tipos de projetos na região, destacando a predominância de iniciativas REDD, Restauração de Natureza e REDD+ Jurisdicional. Os valores apresentados refletem a transição de créditos nos principais padrões existentes, como CDM, EcoRegistry, VERRA, ACR, Gold Standard, entre outros. 

Figura 1. Emissão de crédito de carbono anual na América Latina (MSCI,2024).

Fabiano G. Machado, diretor da Apsis Carbon.

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