Com o surgimento das normas IFRS S1 e S2, criadas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), a sustentabilidade corporativa deixou de ser uma escolha para se tornar uma imposição regulatória e estratégica. Organizações de todos os setores devem aprimorar sua gestão para divulgar informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. No Brasil, de acordo com a Resolução CVM 193 de outubro de 2023, as empresas de capital aberto serão obrigadas a publicar relatórios baseados nas normas IFRS S1 e S2 a partir do exercício de 2026. Mas será que as empresas brasileiras realmente estão preparadas para essa mudança?
O que são as normas IFRS S1 e S2?
A IFRS S1 estabelece requisitos para a divulgação de informações financeiras referentes à sustentabilidade, proporcionando uma visão integrada dos riscos e oportunidades associados a esse tema. Já a IFRS S2 tem como foco específico as mudanças climáticas. Ela exige a divulgação dos impactos financeiros decorrentes dessas mudanças e das estratégias corporativas para mitigá-los.
As normas IFRS S1 e S2 se distinguem de outros padrões de divulgação de sustentabilidade por focarem como as questões ambientais, sociais e de governança impactam o desempenho financeiro das organizações. Para a elaboração dos relatórios, deve-se adotar o princípio da materialidade financeira. Essa abordagem é útil para investidores e demais usuários de relatórios financeiros no processo de tomada de decisão e avaliação de negócios.
Mais do que uma obrigação regulatória, essas normas representam uma oportunidade estratégica para as empresas. Ao fornecerem dados confiáveis e universalmente comparáveis sobre seu desempenho financeiro relacionado a questões de sustentabilidade, as organizações fortalecem a confiança dos investidores. Também demonstram compromisso socioambiental e se antecipam a riscos regulatórios e climáticos. Com isso, aumentam sua resiliência, aprimoram sua reputação e ganham competitividade no mercado.
O cenário atual: estamos prontos?
De acordo com a pesquisa “ESG Latin America Landscape 2024”, realizada pela RSM, 65% das empresas brasileiras não estão prontas para implementar as normas IFRS S1 e S2. Esse dado é corroborado pela baixíssima adesão ao período de divulgação voluntário estabelecido na Resolução CVM 193. Até abril de 2025, apenas duas empresas optaram pela divulgação antes do prazo obrigatório. Esse cenário revela uma lacuna preocupante no que tange à adoção de práticas sustentáveis no país. E isso se agrava quando consideramos que os padrões internacionais serão imperativos para companhias de capital aberto a partir de 2026.
O principal desafio percebido não é o mero cumprimento de uma nova regulamentação. Trata-se da efetiva integração dos conceitos de sustentabilidade à estratégia de negócios. A definição de indicadores de desempenho (KPIs) e a supervisão das práticas ESG são apontadas por 47% das organizações como as principais dificuldades. Apenas 29% priorizam a medição do impacto social e os investimentos correspondentes.
Complexidade e estrutura
Nota-se, portanto, a complexidade de inserir métricas socioambientais aos processos corporativos existentes. Isso ocorre sobretudo em setores tradicionalmente menos familiarizados com as recentes demandas. Os números apresentados também refletem a falta de estrutura para mensurar e divulgar informações relativas à sustentabilidade.
Contudo, o tempo é um fator crítico. Com a obrigatoriedade das normas se aproximando, 2025 será um ano decisivo para que as empresas brasileiras se preparem adequadamente. Ações imediatas e estratégicas são essenciais para evitar custos desnecessários e garantir uma transição suave.
Setores em destaque: avanços e desigualdades
Embora a maioria das empresas enfrente obstáculos, alguns setores estão mais adiantados na jornada de adaptação. Companhias dos segmentos de materiais básicos, utilidade pública e petróleo & gás já produzem informações alinhadas à IFRS S2, o que sugere maior maturidade em relação à sustentabilidade. Grandes players estão liderando esse movimento, como Renner e Vale, que anunciaram a adoção das normas já em 2025.
Por outro lado, o agronegócio, um dos ramos mais afetados pelas exigências ambientais, depara-se com desafios significativos. A complexidade das cadeias produtivas dificulta o ajustamento às novas regras. Diante da importância do mercado agrícola para a economia nacional, esse cenário pede especial atenção.
Oportunidades para as empresas brasileiras
A não conformidade com as normas IFRS S1 e S2 gera riscos consideráveis. Entre eles, estão restrição de acesso a financiamentos, perda de competitividade, danos reputacionais e até sanções regulatórias. Empresas que ignorarem essa tendência poderão ser excluídas de cadeias produtivas globais. Isso é consequência de investidores e stakeholders estarem cada vez mais atentos à transparência de gestão e à responsabilidade ambiental.
Em contrapartida, aquelas que utilizarem as normativas de forma estratégica terão acesso a novas oportunidades de negócio. Podem atrair capital estrangeiro, melhorar sua imagem institucional e posicionar-se à frente da concorrência. A Vale, como já citamos, mostrou um posicionamento proativo em relação à sustentabilidade ao comunicar que antecipará a adoção das normas para 2025.
Ainda assim, a transição pode ser profundamente desafiadora para organizações com incipiente gerenciamento de riscos climáticos e pouco conhecimento a respeito dos padrões internacionais. Logo, é preciso dedicar esforços para reverter esse quadro.
Como cumprir os novos requisitos com eficiência?
A adoção das normas IFRS S1 e S2 impactará diversas áreas das empresas de forma transversal. Isso exigirá maior envolvimento da alta gestão na agenda ESG, gerenciamento de riscos climáticos e socioambientais, integração de dados de sustentabilidade aos relatórios financeiros e uma comunicação mais transparente e confiável. Portanto, para uma adaptação eficaz, é essencial um plano estruturado e consistente, com etapas bem definidas.
E o primeiro passo é entender o nível de preparação da organização em relação às exigências das normas IFRS S1 e S2. Contando com uma equipe multidisciplinar, com especialistas em todas as áreas cobertas pelas normas IFRS S1 e S2, e dispondo de metodologia própria, a Apsis Carbon desenvolveu o seu Diagnóstico IFRS S1 e S2 para ajudar as organizações nesse processo, com base nos seguintes objetivos específicos:
- Avaliar o nível de preparação da organização para atender às normas IFRS S1 e S2, com foco em materialidade financeira.
- Avaliar a materialidade da organização, considerando impactos financeiros de questões ambientais, sociais e de governança (ESG), que influenciam suas perspectivas de desempenho.
- Definir os KPIs relevantes de forma que estejam alinhados à materialidade e às metas de sustentabilidade da empresa, e que sejam mensuráveis, comparáveis e integrados aos relatórios financeiros.
- Analisar a estrutura de governança existente e sua conformidade com as exigências de governança e gestão de riscos definidos pelas normas.
- Identificar lacunas (gaps) nos processos, sistemas e dados necessários para monitorar os KPIs e para a divulgação à luz das normas.
- Definir quais análises e práticas complementares a organização ainda precisa implementar, entre requeridas e indicadas, como Inventário de Emissão Gases de Efeito Estufa, Estratégia de Descarbonização, Análise de Riscos Climáticos, entre outras.
- Propor recomendações adicionais, como incorporação de tecnologia específica para coleta, análise e monitoramento de dados de sustentabilidade, capacitação e engajamento de colaboradores, entre outras.
Após a conclusão do diagnóstico, a organização terá mapeado todos os indicadores e informações necessários para elaborar os relatórios baseados nas normas IFRS S1 e S2. Também terá um plano de ação para implementar os processos e realizar as análises que ainda estiverem pendentes.
Conclusão: a hora de agir é agora
As normas IFRS S1 e S2 constituem um novo paradigma para a divulgação de informações financeiras referentes à sustentabilidade corporativa. O pioneirismo da CVM na adoção das normas oferece uma oportunidade única para as empresas brasileiras se destacarem no cenário global.
Embora reconheçamos as dificuldades, especialmente para setores menos familiarizados com práticas ESG, à medida que o mercado financeiro se torna cada vez mais exigente quanto à transparência e à gestão de riscos associados à sustentabilidade, entendemos que uma abordagem estruturada e proativa pode transformar esses desafios em vantagens competitivas substanciais para as empresas que se anteciparem à implementação das normas.
Em pouco tempo, teremos a obrigatoriedade dos novos padrões. A adequação a eles implicará tanto conformidade legal quanto sobrevivência e crescimento no mercado. A conformidade com essas normas facilitará o acesso a fontes de capital mais atrativas. Também permitirá às organizações se comunicar de forma clara e objetiva sobre como riscos e oportunidades relacionados à sustentabilidade impactam seu desempenho econômico.
Os negócios que assumirem a liderança nesse processo não apenas evitarão penalidades. Também consolidarão sua relevância no meio empresarial, pois o desenvolvimento sustentável é sinônimo de valor econômico e estratégico.
A questão não é mais se a sua empresa precisa se adaptar, mas, sim, se você está agindo rápido o suficiente para não ficar para trás.
O Grupo Apsis tem a expertise multidisciplinar necessária para ajudar você em todo o percurso, desde o diagnóstico inicial até a elaboração dos relatórios. Com mais de 45 anos de experiência e contando com profissionais especializados nas áreas de avaliação de ativos, contabilidade e riscos climáticos, somos únicos na capacidade de entregar o olhar completo e transversal que as normas IFRS S1 e S2 exigem.