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Avanços e desafios na sustentabilidade global

Nos últimos anos, tem havido um aumento significativo no reconhecimento da importância dos compromissos socioambientais por parte das companhias em todo o mundo. Recentemente, o Global Reporting Initiative (GRI) estabeleceu um novo padrão global em responsabilidade pelos impactos na biodiversidade, conhecido como GRI 101: Biodiversidade 2024¹. Esse padrão traz algumas mudanças importantes, como a inclusão dos impactos ao longo da cadeia de fornecimento, detalhes sobre a localização desses impactos e informações sobre os principais fatores que levam à perda de biodiversidade, além do relato sobre como esses impactos afetam o aspecto social.

Outro exemplo de relevância é o Corporate Sustainability Reporting Directive – Diretiva de Relato de Sustentabilidade Corporativa (CSDR²), que define as regras obrigatórias de relato das informações sociais e ambientais de empresas pertencentes à União Europeia (UE) e empresas não pertencentes à UE que geram mais de 150 milhões de euros no mercado na UE. As novas regras deverão ser aplicadas pela primeira vez no exercício financeiro de 2024, com relatórios publicados em 2025.

Apesar dos avanços nesta agenda, 284 empresas tiveram suas metas de compromisso “net-zero” removidas da campanha “Business Ambition for 1,5 ºC”, realizada pela Science Based Targets initiative (SBTi). Entre essas empresas estão algumas bastante relevantes no cenário econômico internacional e na agenda ESG, como Procter & Gamble, KPMG UK, Grupo SOMA e Natura & Co.

Durante essa campanha, as empresas foram incentivadas a definir metas baseadas na ciência, alinhadas com cenários que visam limitar o aquecimento global a 1,5 °C, refletindo os esforços globais para combater a crise climática e seus impactos ambientais. Os cinco países que mais participaram dessa campanha encontram-se na Figura 1. Já no contexto brasileiro, das 118 empresas com algum compromisso de meta na plataforma da SBTi, 12 tiveram seu compromisso removido.

Figura 1. Cinco países com maior número de organizações que aderiram à campanha “Business Ambition for 1.5 ºC”.

Fonte: SBTi.

De acordo com a SBTi, diversos fatores podem explicar a remoção de compromissos de algumas organizações. Um deles é a preferência por metas de curto prazo, que se alinham mais facilmente aos ciclos de planejamento empresarial, enquanto poucas empresas possuem estratégias de sustentabilidade de longo prazo. Por outro lado, a pesquisa revelou uma demanda substancial por metas de ser “net-zero” até 2050, indicando um interesse crescente nessa abordagem, ainda que sua adoção permaneça relativamente recente.

Além disso, os resultados indicam que poucas empresas estão preparadas para adotar metas de descarbonização profunda em toda a sua cadeia de valor (escopo 3), o que pode ser atribuído a incertezas sobre o futuro e/ou dúvidas sobre a capacidade de atingir tais objetivos. Esse aspecto ressalta a necessidade de um planejamento estratégico robusto e de medidas concretas para promover a transição para uma economia de baixo carbono.

¹GRI Biodiversit.
²CSDR.

 

Mercado voluntário de carbono

Segundo pesquisa realizada pela BloombergNEF (BNEF), a valorização do preço do crédito de carbono no mercado voluntário está extremamente interligada ao fortalecimento da confiança nele, que é reforçada pelo aumento da integridade. O relatório apresenta três cenários para os preços futuros dos créditos de carbono, que dependem de como o mercado e a demanda se desenvolvem. São eles:

  • (i) Cenário alta qualidade (linha roxa) – Os problemas de integridade são resolvidos, e a demanda é inelástica, ou seja, a quantidade de créditos demandada não é muito afetada pela mudança de preço. Nos primeiros anos, o preço do crédito atinge $20/tCO2e em 2030, podendo alcançar o valor de $238/tCO2e em 2050.
  • (ii) Cenário mercado voluntário (linha azul) – Os problemas de integridade não são resolvidos, e a demanda é elástica, ou seja, a quantidade de créditos demandada varia significativamente em resposta a alterações no preço. Nos primeiros anos, o preço do crédito atinge $13/tCO2e em 2030, podendo alcançar o valor de $14/tCO2e em 2050.
  • (iii) Cenário de remoção (linha vermelha) – As companhias só podem comprar créditos de remoção, e os créditos são intercambiáveis com outras formas de mitigação, levando a uma abordagem de descarbonização de menor custo. Nos primeiros anos, o preço do crédito atinge $146/tCO2e em 2030, podendo alcançar o valor de $172/tCO2e em 2050. A Figura 2 representa graficamente essas tendências.

 

Figura 2. Tendência de preço dos três cenários analisados pela BNEF.

Fonte: BNEF.

Outro indicador de uma tendência de aumento de preço é representado pelos valores registrados pela S&P Platts. No contexto do mercado voluntário, os créditos de ARR provenientes da América Latina destacam-se como os mais competitivos e amplamente aceitos internacionalmente entre os créditos de remoção baseados na natureza. Além disso, outros tipos de crédito com grande potencial são os créditos de remoção baseados em tecnologia.

Esses desenvolvimentos refletem a crescente importância do mercado de carbono voluntário como um instrumento-chave para as organizações alcançarem suas metas de redução de emissões. Essa tendência ganha ainda mais relevância diante da falta de progresso no Artigo 6 do Acordo de Paris durante a COP 28.

 

Mercado regulado

Apesar dos desafios, em 2023 a UNFCCC finalizou o período de pedido de transição dos projetos Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL ou CDM) para o Mecanismo do Artigo 6.4, apresentando um passo importante para o avanço dessas metodologias. As principais razões para a transição estão relacionadas a preocupações com a integridade das metodologias do MDL e ao potencial de acesso ao mercado futuro do Artigo 6º. No total, foram submetidos 1.379 projetos, distribuídos geograficamente conforme ilustrado na Figura 3.

Figura 3. Distribuição geográfica dos projetos que requereram transição para o Artigo 6.4.

Fonte: UNEPCC.

O pedido de transição foi a primeira etapa de uma jornada que os proponentes do projeto devem realizar. Atualmente, os projetos estão abertos para consulta global de stakeholders, ou seja, todas as partes interessadas, incluindo as organizações observadoras da UNFCCC, podem enviar comentários sobre os projetos.

Posteriormente, são necessários documentos adicionais para comprovar a conformidade com os requisitos de transição, que podem incluir atualizações ou revisões do Documento de Descrição do Projeto (PDD) registrado. O pedido de transição deverá ser submetido, após o pagamento da taxa de transição, a uma revisão pelo Corpo Supervisor. Se a transição for aprovada, o projeto é finalmente retirado do registro do MDL. Essas etapas são cruciais para garantir uma transição suave e bem-sucedida dos projetos para o novo mecanismo, promovendo a integridade e a eficácia das atividades de mitigação das mudanças climáticas.

É fundamental reiterar a importância de uma preparação cuidadosa e uma compreensão clara dos documentos necessários para uma transição eficaz dos projetos para o novo mecanismo de mitigação das mudanças climáticas. Na Apsis Carbon, estamos comprometidos em auxiliar sua organização a navegar por esse processo complexo, garantindo conformidade e promovendo a sustentabilidade ambiental. Entre em contato conosco hoje mesmo para garantir que sua transição seja tão suave e eficiente quanto possível. Juntos podemos fazer a diferença.

Por Fabiano Machado, diretor da Apsis Carbon.
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