Sustentabilidade corporativa: do conceito até a prática

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É difícil tentar diagnosticar por qual revolução estamos passando. O volume de informações diárias que recebemos após a chegada dos computadores e celulares pode nos deixar perdidos no meio de um processo de adaptação ao modelo econômico globalizado de livre mercado. 

Não custa lembrar que o modelo econômico de livre mercado adveio da necessidade de adaptar as sociedades à era industrial ou era do “capital”, após a chamada Revolução Industrial e seus efeitos colaterais: novos produtos, novas necessidades, novas tecnologias, produção em escala, fábricas e mais fábricas, êxodo rural e grandes centros urbanos e industriais. 

Assim, ficamos tão ocupados em formatar essa transição, competindo, concentrando riquezas e aproveitando todas as oportunidades, que deixamos de lado a verdadeira motivação para tanta criatividade humana: nossa qualidade de vida. Só acordamos para a realidade dos fatos quando constatamos que a temperatura do planeta havia começado a subir, após milhares de anos de estabilização. E por nossa causa.

Qualidade de vida é uma expressão rica em conteúdo e de significado relativo. Relativo no sentido de qualidade, pois a palavra “vida” é absoluta, inquestionável. Criadas as condições básicas de manutenção da vida, a “qualidade” que se atribui a esta é muito pessoal para cada um de nós. Conseguimos chegar até aqui trocando a “qualidade” no presente por uma “qualidade” no futuro: 12 a 16 horas de trabalho hoje por uma aposentadoria tranquila lá na frente. 

Sustentabilidade corporativa

Porém, esse ciclo vicioso e acelerado começou a mudar quando percebemos que a “vida” e sua manutenção estavam sendo ameaçadas. Sem vida, a eterna busca pela qualidade perde o sentido.

Afinal, isso significa que erramos até agora em nossos modelos econômicos e de mercado? Não, nós não trabalhamos contra a vida em sã consciência. O que podemos dizer é que nos concentramos temporariamente em outros objetivos, na construção dos alicerces dessa nova sociedade da tecnologia e do conhecimento, mas já iniciamos o processo de mudança há algum tempo, rumo à sustentabilidade da vida no longo prazo, como demonstra a cronologia a seguir.

1972

  • O Clube de Roma, em seu relatório “Os limites do crescimento”, alerta sobre os riscos de esgotamento das energias não renováveis e preconiza o crescimento zero.
  • Elaboração da Resolução do Conselho Econômico e Social da ONU sobre o papel e os efeitos das multinacionais nos países emergentes.
  • Fundação do Greenpeace.
  • Criação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

1975

  • A Conferência de Helsinque reafirma o caráter essencial dos direitos econômicos, sociais e culturais.

1976

  • Os princípios diretores da OCDE sobre as multinacionais.

1977

  • Criação da lei que determina a publicação do balanço social, voltada para as relações de trabalho, na França.

1978

  • A Fundação Fides apresenta proposta de balanço social no Brasil.

1980

  • O Relatório Brandt, “Um programa de sobrevivência”, preconiza a transferência de fundos financeiros e uma interdependência entre norte e sul.
  • Fides realiza um seminário internacional sobre o balanço social e o livro Balanço social na América Latina.

1982

  • Calvert Social Investment Fund – Fundo ético americano.

1985

  • Surge o Responsible Care, iniciativa da indústria química sobre segurança e proteção da saúde e do meio ambiente.
  • Portugal torna obrigatória a publicação de balanço social para empresas com mais de 100 funcionários.

1986

  • The Caux Round Table, mesa-redonda com lideranças da Europa, do Japão e dos Estados Unidos, elabora uma carta sobre o comércio ético e responsável (Principles for Business).
  • Adoção dos princípios de Linburg detalhando as obrigações do PIDESC.

1987

  • Surge o ISO 9000.

1988

  • O assassinato de Chico Mendes, ambientalista brasileiro, ganha repercussão internacional.

1990

  • Conferência da ONU sobre os direitos da infância.
  • Domini 400 Social Index – não admite empresas envolvidas com tabaco, álcool, jogo, armas e geração de energia nuclear.

1991

  • Fundo para o meio ambiente mundial.
  • Carta de desenvolvimento da câmara internacional do comércio.

1992

  • Lévi-Strauss; primeira multinacional a estabelecer um código de ética baseado nos princípios dos direitos humanos.
  • ECO 92, conferência da ONU no Rio, cria a Agenda 21, documento que apresenta o compromisso das nações sobre a mudança de padrão de desenvolvimento para o próximo século.
  • A FGV funda o Centro de Estudos de Ética nos Negócios (CENE).

1993

  • A Conferência de Viena rearma o caráter universal, indivisível e interdependente dos direitos humanos.

1994

  • É fundado o Ibase.

1995

  • ISO 14000, certificação e gestão ambiental.
  • World Business Council for Sustainable Development, união de 150 multinacionais pelo desenvolvimento sustentável.
  • European Business Network for social cohesion.
  • ONU sommet em Copenhague pelo desenvolvimento social.

1996

  • O Institute of Social And Ethical Accountability cria a norma AA1000, na Inglaterra.

1997

  • Fairtrade Labelling Organization (FLO), junção das organizações certificadoras.
  • Declaração das convenções de base OIT.
  • A Conferência de Kyoto estabelece cotas de emissão de gases na atmosfera.
  • O Ibase propõe um modelo de balança social.
  • É criado o GRI, movimento internacional de padronização do relato socioambiental.

1998

  • Ethical Trade Iniciative, parceria entre o governo britânico, ONGs e empresas.
  • Surge o instituto Ethos.
  • SA 8000, norma voltada para as condições de trabalho.

1999

  • A ONU propõe o Global Compact.
  • Dow Jones Sustainability Index (DJSI), que define a sustentabilidade de acordo com critérios econômicos, sociais e ambientais.

2000

  • Relatório anual do Banco Mundial “Combate à Pobreza”.
  • A ONU realiza assembleia que cria a Declaração do Milênio, documento que consolidou metas a serem alcançadas até 2015.

2001

  • Livro verde da comissão europeia sobre RSE.
  • ISO encomenda ao COPOLCO um estudo sobre responsabilidade social e sua necessidade de normas internacionais.

2002

  • Rio +10, conferência da ONU na África do Sul, avalia o encaminhamento das proposições da ECO 92.
  • Fair Labor Association (FLA), 13 corporações com 4 mil fábricas em 75 países certifica empresas e marcas (EUA).
  • África do Sul – “King II Report” obriga as edições do código de ética e do balanço social e reconhece o interesse dos stakeholders.
  • A União Europeia lança seu “livro branco”, documento que faz forte promoção da R.S.E.
  • A ABNT cria o grupo tarefa RS visando acompanhar internacionalmente os trabalhos da ISO.
  • A COP6, na Holanda, estabelece metas de preservação da biodiversidade para 2010.

2003

  • O TMB, órgão técnico máximo da ISO, decide criar um grupo de especialistas de cada continente. O Brasil é representado.
  • Criação do Comitê Brasileiro do Global Compact.
  • “Marco referencial de RSE” integra 40 organizações holandesas (ONGs e centrais sindicais).

2004

  • “Normas sobre a responsabilidade de corporações transnacionais e outras empresas em relação aos direitos humanos”, a ser aprovada pela ONU.
  • Workshop internacional da ISO realizado em junho, em Estocolmo-Suécia 1972.

2005

  • É lançado o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) pela Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA).

2007

  • Publicação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que buscou chamar a atenção da comunidade global sobre os problemas relacionados às mudanças climáticas. 

2009 

  • Conferência sobre Mudança do Clima de Copenhague eleva a política de mudança climática ao mais alto nível político com o aval de 115 líderes de vários países, com metas a longo prazo de limitar o aumento da temperatura média global máxima a não mais do que 2 ºC acima dos níveis pré-industriais.

2012

  • Aconteceu a conferência Rio +20, que teve como objetivo a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável  foram as diretrizes aprovadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas entre os 193 países que integram a ONU. 

2014

  •  Há sinais de que a camada de ozônio está em processo de recuperação graças ao Protocolo de Montreal, enfatizando o poder da ação coletiva.

2015

  • Adoção junto à ONU dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com foco no meio ambiente, na água, no clima, no saneamento básico e no desenvolvimento da vida.
  • COP 21 – Conferência do Clima de Paris teve como objetivo avançar em um acordo legal e global em relação ao clima do planeta, estabelecendo as metas para manter o aquecimento global menor do que 2 ºC.
  • Renovação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio, que buscou estabelecer uma agenda até 2030 para debate e desenvolvimento da sustentabilidade global.

2016

  • Entrou em vigor o Acordo Paris em 04 de novembro, muito antes do esperado, representando um marco inédito e recorde em todas as negociações internacionais lideradas pela ONU.

2019

  • A partir de 1º de janeiro de 2019, entrou em vigor a Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal, que visa eliminar o consumo de potentes gases do efeito estufa, como os hidrofluorocarbonetos (HFCs).

2020

  • Criação do  Conselho Consultivo para Cidades Sustentáveis. Esse programa é voltado para acelerar a adoção de métodos inovadores, visando construções mais eficientes e que priorizem a sustentabilidade. 

2021 

  • COP 26 com a assinatura do Pacto Glasgow, em que, pela primeira vez, o uso de combustíveis fósseis foi elencado como a principal causa da crise climática. 
  • Foi acordada a redução global das emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, em comparação com 2010, e de neutralidade de CO2 até 2050. Foram feitos ajustes na questão climática (IPCC), com meta de aumento de até 1,5 °C.
  • O Brasil assumiu mais um compromisso na COP26, de mitigar 50% de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. 
  • O livro de regras do Acordo de Paris foi completo. Agora, os 198 países estão obrigados a informar, detalhadamente, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2024, para permitir elaborar planos de redução mais efetivos.

Desenvolvimento sustentável: a garantia da vida 

Podemos concluir, pela cronologia anterior, que o problema já foi identificado e amplamente discutido por grandes fóruns internacionais. 

Assim, definimos o desenvolvimento sustentável nas empresas como uma adoção de estratégias empresariais e atividades que atendam às necessidades do negócio e de seus “parceiros” (stakeholders) hoje, ao mesmo tempo protegendo, sustentando e aumentando os recursos humanos e naturais que serão necessários no futuro.

Desse modo, estamos contribuindo para a manutenção da vida ou, pelo menos, não estamos atrapalhando.

Sustentabilidade corporativa: do conceito à prática 

Hoje, as empresas estão mais conscientes e já dispõem de todas as ferramentas para a implementação de um modelo de organização considerado sustentável. As empresas de consultoria proliferam pelo mundo oferecendo produtos de prateleira que vão desde sistemas integrados de logística até complexos sistemas gerenciais para apoio à tomada de decisão. 

O segredo para a aplicação do conceito de sustentabilidade está na escolha e na integração dessas ferramentas gerenciais já disponíveis no mercado. Atualmente, a maioria dos sistemas gerenciais de análise de investimentos e apoio à tomada de decisão está baseada no conceito econômico. Dessa forma, esses sistemas não estão integrados com as atividades de cunho social e ambiental, que, muitas vezes, também existem de forma estruturada na mesma empresa. Por exemplo, empresas com certificado ISO 14.000, Balanço Social Anual, etc. 

Os sistemas com diferentes focos – econômico, social e ambiental – precisam se comunicar e passar a ter um único foco: o de sustentabilidade. Precisamos olhar para essas três variáveis na empresa e aprender a enxergar uma questão de novos hábitos. 

Para auxiliar na assimilação desses novos hábitos necessários, a ONU e o Banco Mundial, por meio do seu braço financeiro (IFC), entre outras instituições e organizações, estão fomentando uma série de diretrizes e mecanismos focados no setor financeiro, com o intuito de criar o conceito de “investimentos socialmente responsáveis”. Assim, o dinheiro ficará mais caro para quem não tem compromisso com a sustentabilidade. Ou seja, esse é um alerta para os investidores e administradores de empresas sobre os novos tempos: um negócio não vale só pelo seu desempenho econômico ao longo do tempo, mas pelo seu desempenho ambiental e social. Prova disso é a busca cada vez maior pela adequação aos critérios ESG e também o fato de que os investidores levam cada vez mais em consideração esse critério como um fator decisivo na definição de seus focos de investimento. 

Novos tempos, novos índices 

Seguindo a tendência irreversível da sustentabilidade, iniciou-se um processo empírico de análise de benchmark, tentando medir o resultado das boas práticas de sustentabilidade e criar referências para as empresas no mundo inteiro. 

Desta forma, as bolsas de valores criaram questionários, baseados na farta bibliografia produzida sobre o assunto, para tentar eleger os melhores praticantes da “sustentabilidade corporativa”, criando índices específicos para acompanhar o desempenho dos ativos dessas empresas e compará-los com o desempenho dos demais. 

Por exemplo, temos o Dow Jones Sustainability Index e suas diversas vertentes na Bolsa de Valores de Nova Iorque e sua versão brasileira na Bolsa de Valores de São Paulo, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Há, também, o recém-criado Índice S&P/B3 Brasil, que mede a performance de títulos que cumprem os critérios de sustentabilidade e tem como uma de suas bases de avaliação o Pacto Global da ONU.

A CVM alterou pontos importantes da Instrução 480/09, passando a prever que as companhias apresentem, no formulário de referência, seus principais indicadores de aspectos ESG, bem como os seus riscos ambientais, sociais e de governança. 

As empresas também deverão divulgar se possuem inventário de emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e prestar informações a respeito da diversidade do corpo de administradores e empregados.

Como a Apsis pode ajudar a sua empresa na busca pela sustentabilidade corporativa

A Apsis Consultoria auxilia a sua empresa a fazer um mapeamento capaz de mostrar em que patamar a companhia está em questões ambientais, sociais e de governança. Desse modo, sua empresa pode iniciar sua jornada na trilha ESG de forma organizada e com um planejamento de longo prazo, com métricas confiáveis e auditáveis. Além disso, a Apsis está presente no mercado de carbono desde 2007, quando registrou o primeiro projeto de um cliente na UNFCCC/ONU, seguindo as diretrizes do Protocolo de Kyoto, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

A partir dessa avaliação, você vai entender o atual momento da empresa e as oportunidades para o seu negócio ainda em 2022. Entre em contato conosco e solicite uma consultoria para implementação de ações sustentáveis na sua empresa, realização de inventário de emissões, identificação de oportunidades de projetos de carbono, entre outras oportunidades.

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